Pois devem estar se perguntando qual o motivo me levou a abrir uma taverna com este nome. É justa a pergunta, assim como justa será minha história.
Não muito tempo atrás, não muito longe daqui, enquanto eu viajava em busca de meu lugar, senti fome. Sem habilidades que me permitissem caçar algo com mais de duas pernas, fiz uso da vara de pesca que havia surrupia.... erh... pego emprestado de um amigo, sem aviso prévio, que mora longe e não deve querer me ver tão cedo...
Mas então, peguei a vara de pesca e segui para o curso d'água que corre a leste daqui. Sentei-me abaixo de um frondoso pé de jaca, audaz que era eu, e lancei o anzol no meio da correnteza. Senti a fisgada, coloquei-me de pé e lutei contra a terrível criatura que abocanhara a outra ponta. Foi um espetáculo, uma pescaria sem precedentes deste lado da província! Aquilo puxava e resistia, eu puxava e o trazia para mim. Após uma torturante disputa de forças, consegui tirar minha pesca do rio. Mas aquilo não era um peixe.
Vejam bem. Um peixe somente se debateria. Abriria a boca sim, mas sem som algum. E este xingou minha mãe de nomes que não ouso usar nem na mais estapafúrdia e lasciva história que tenho para contar.
Era um goblin. Juro ser o mais feio que eu tinha visto até então, pior que briga de foice com a mãe, no dia das mães, diante da avó... enfim, era feio.
Arrancou o anzol da boca, olhou-me nos olhos, apontou-me o dedo e falou mais outras coisas que me fizeram sentir um santo pelo que sei. Ele não parava de falar para ouvir minhas mais sinceras desculpas. Entendam, nunca foi de meu feitio pescar goblins em rios de forte correnteza.
Enquanto a cena ridícula se desenrolava, reparei de canto de olho que outro goblin saia do rio. Só então percebi os trajes dos indivíduos: folhas largas atreladas aos pés, pedaços do caule oco de alguma planta amarrado na lateral das cabeças de ambos e um projeto de roupa de baixo. Aí sim eu fiquei mudo.
'Que treta!' pensei.
Os dois então vieram para cima de mim. Eu estava armado com uma vara de pesca, cercado de jacas por todos os lados, e por dinheiro algum no mundo eu usaria meu alaúde como tacape. Por um alaúde todo em ouro talvez, mas não era o caso... Olhei para cima deles e vi uma fruta justa para aquela árvore. Era uma jaqueira frondosa como havia dito e se aquilo não era uma jaca digna da mãe, eu era um resto de couve nos dentes de um troll vegetariano. Foi instantâneo. Brandi minha vara de pesca como um cavaleiro brande a lança e "POF!", a jaca em queda fez o resto. Lambuzados, molhados e atordoados, os goblins ficaram gemendo aos meus pés. Eis que ouvi, naquele momento, o aproximar de alguém.
Um sujeito até bem apessoado, apesar das vestes coloridas como quem deita num pomar com várias frutas e sai rolando pelo chão, chegou perto, olhou para mim, olhou para o chão e pareceu se sobressaltar um pouco.
Ele me perguntou em sua voz mansa "O que eles estão fazendo aqui?". Retruquei "Olha moço, eu me perguntava a mesma coisa. Pesquei o primeiro e o segundo saiu da água. E eu só queria uma truta... Não posso comer goblins.". O mago me olhou com cara de nojo, puxou os dois goblins pelas orelhas e me disse "Perdão, mas é que sempre que saio com eles, eles vêm para a parte mais profunda do rio."
"Sempre que SAI com eles?" indaguei, ainda atordoado com o nível da treta em que parecia ter me metido. "Sim, saio com eles. São meus goblins de passeio... Perdoe-os pelo inconveniente. Eles gostam de água e adoram comer minhocas."
Não sei com qual expressão facial retruquei "Ah... é? Pois é né...". Ele se dirigia para longe quando parou, virou a cabeça para trás e perguntou "Você é novo por aqui? Nunca havia o visto. São terras ermas, embora seja uma província populosa.".
Educadamente respondi "Sou apenas um viajante procurando um lugar para me fixar. Espairecer sobre a vida. E sobre uma boa cama também."
"Ora, se tem o dinheiro, eu tenho o lugar. Há uma casa quase perto daqui. Se quer arrumar lugar fixo, e se é capaz de usar este instrumento nas suas costas, bom uso faria de uma taverna, numa estrada erma, mas cheia de viajantes. Não é uma taverna, mas uma casa que poderia vir a ser se você estivesse disposto a faze-lo." disse ele.
Ora, olhem bem para mim! Sou um contador de histórias e que lugar melhor para gerar algum ouro, senão uma terra onde existem goblins de passeio, uma taverna potencial e a oferta de um lugar?
Aceitei.
Acompanhei-o até sua casa, momento que pode ficar para outra história. O que vos interessa, no que toca a fundação deste lugar, é que saí de lá com fome e aqui chegando havia uma balde de trutas com um bilhete "Boa sorte Auraryus!".
E pensei "Quanta truta nesta treta!". E vos ofereço agora muitas trutas tretadas...