quarta-feira, 22 de agosto de 2012

PAPEL FIXADO À PORTA (sobre uns rabiscos) – "Toda ação!"

Digo, meu amigos, conterrâneos, homens, mulheres, fêmeas e machos, duas pernas ou quatro patas,  de barrigas vazias: preciso de mais um tempo.

"Por quê?", vocês me perguntariam, se aí eu estivesse.

Enfim, logo após terminar de contar aquela primeira parte sobre a tartaruga armadeira atroz, dirigi-me para a cozinha terminar o manjar dos deuses, que é a minha gororoba, e alimentar a alma de cada um de vocês, quando irrompeu um lépido goblinzinho pela entrada dos fundos gritando por socorro. Ora, num lugar onde goblins são criaturas de passeio, ter um irrompendo pela cozinha, interrompendo a orquestração de uma autêntica "Sopa de Batatatroz Armada no Casco" é um presságio sério sobre algo que eu ainda ia descobrir. Após um copo de água, duas engasgadas, um soquinho nas costas batracóides e um tapa na cara para acordar o pobrezinho, que havia dado com a cabeça na quina da mesa depois do soquinho nas costas para descer aquele engasgo, ele me olhou com olhos tenazes de um covarde assumido e murmurou "Seu Auraryus, eles estão vindo armados até os dentes.".

Nessa altura, aqueles que lêem o aqui redigido devem estar se perguntando, como eu, quem eram eles, que armas eram essas e, acima de tudo, por que diabos estavam "vindo" e não "indo".

Segui para a porta dos fundos para ver que treta era aquela. Dei meia volta imediatamente, apanhei uma frigideira de tamanho grande, uma colher de pau, meu alaúde, o goblin e chamei Bordoada, pedindo-lhe que terminasse meu trabalho na cozinha e servisse a comida nova aos famintos pagantes e os saudáveis restos do dia anterior ao restante sem dinheiro, na medida do possível.

Saí então, munido com tudo que eu precisava para, audaciosamente, descobrir o que estava acontecendo. Aqueles que ameaçavam meu esperado último recanto e a segurança de vocês que estavam presentes naquele dia eram homens de Shenpu'Rako (que no idioma dos ditos cujos quer dizer "aqueles que pensam 3 vezes", e na minha mente quer dizer "homens defumados de além de lá"), uma tribo famosa por ter desenvolvido um emplastro especial de ervas capaz de tirar impurezas do ar, já que ninguém por lá tinha pensado em simplesmente criar uma abertura por onde a fumaça das fogueiras pudesse seguir rumo ao céu. Da última vez que os encontrei, cheguei até mesmo a perguntar o porquê de não abrirem um buraco no topo das habitações, mas fui respondido com tortas quentes de coisas que prefiro não citar para não estragar o apetite daqueles que pretendem voltar.

Se algum de vocês está se perguntando também o porquê de eu me munir de uma frigideira de porte grande, uma colher de pau e o alaúde (o goblin eu puxei porque era o único, vejam só vocês, a saber algo sobre o que estava acontecendo). Resposta simples: todo viajante que se preze sabe que é costume de tribos como a Shenpu'Rako resolverem contendas, divórcios e quem é o primeiro pega do dia através de disputas gastronômicas. Se uma das partes se recusa a participar da culinária, aí sim acontece o desafio de armas. Mas sou melhor cozinheiro do que espadachim, explicando assim a minha escolha.

Saí e fui escoltado pelos mais bravos guerreiros shenpurrakenses, por dias a fio, até que nos apresentássemos ao chefe da tribo. O abaulado cacique, notando nossa chegada, começou a revelar o real motivo daquela tão estranha e pitoresca reunião. Ele me disse, mais ou menos, com essas palavras: "Ó aquele-que-dedilha-muitas-cordas, és filho de um corno manso! Soubemos por intermédio dos espíritos-que-estão-do-outro-lado-da-vida que fizeste uma tremenda emboscada contra o poderoso Bahfunfah, meu estimado bichinho de estimação.".

"Mas que treta é…" ia eu dizendo quando fui interrompido pela cutucada (a bem da verdade foi com o cotovelo, mas o goblin era tão mirrado…) do meu pequeno companheiro, que sussurrou: "A tartaruga arameira atroz…. Tinha 400 anos e era herança de família"

Pois bem, em prol de desafiar a ansiedade de vocês, findo aqui a primeira parte da justificativa de minha justificada e justa ausência...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

UNS RABISCOS APAGADOS (na porta também)

Estive aqui, mas descobri que comigo não estava a carta enviada por Auraryus. Voltei para a cidade para buscar a destemida carta que esse herói digno de sua pouca humildade escreveu justificando sua delongada ausência e anunciando seu tão esperado retorno. Daqui a um dia (acho) estarei lá e novamente aqui, depois de amanhã!

Vermont C. Arta Prati (vulgo "Mensageiro")

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O Nome da Fome

Ei você, por aqui de novo... Auraryus não está, o que é, de fato, muito estranho, pois já fazem quase duas estações que sumiu. O prazo que o Contador deu expira em dois dias e nem sinal dele por aqui... Que dó queimar ou vender esse lugar... eu até moraria aqui, se não tivesse que me mudar com tanta frequência. Por quê? Por que sou solícito o suficiente para atender as conveniências das autoridades e guardas locais. Apesar disso, até hoje não tive nenhum delicado pedido de licença deste lugar, então, arrisco ficar mais um pouco, se isso continuar sendo pouco risco.

É... de qualquer jeito, já vi que você gosta do lugar, então, ao menos pode matar a fome de estar aqui: não me incomodo com companhia enquanto esta não se incomodar com a minha. Já a fome de comida, posso improvisar algo lá na cozinha; nunca fui um nato cozinheiro, mas também nunca morri de fome na minha vida de viagens solitárias. Deve ter algo suficiente na despensa, apesar da escassez dos alimentos, que dê pra hoje, pelo menos.

Tá tudo muito empoeirado, mas bate a poeira da cadeira aí, se quiser, fica em pé, lustre o assento com sua... o quê? Sim, era um rato indo pra cozinha, mas tudo bem, ele vai sair de lá meio frustrado quando ver os cogumelos e as teias de aranha no queijo... dou um jeito depois, se ele insistir na excursão da casa.

Beber? Se os outros ratos, que se mudaram daqui ontem, tiverem deixado um pouco pra mim quando eu pedi, posso compartilhar  com você, sem problem... não? É você quem sabe, cliente.

Enfim, tá meio frio e pelo menos lenha pra lareira tem, ainda que vai dar uma certa inveja do fogo matando sua fome. De qualquer jeito, enquanto ele mata sua fome de lenha, matamos nossa fome de calor e matamos o frio com sua fome de nos deixar gelados... Já notou como a fome é algo que alavanca o movimento do que vive? Às vezes é bem difícil dizer se ela é feita de vontade, de necessidade, ou das duas coisas – digo, há fomes e fomes neste mundo, e, é claro, existem todas essas combinações, mas definirmos nossas próprias fomes dentro dos três contextos não é simples, apesar de que dar um nome à fome nos é muito necessário, às vezes. Em outras palavras, existe uma fome no ser humano de dar nome às fomes... esquisito, não é? Esse era um mote que ouvi muito.

Tudo se resume nas seguintes questões: Sabemos o que queremos? Sabemos de que precisamos? Queremos mesmo? Precisamos mesmo? Ou, na verdade, queremos e precisamos? Muitos querem precisar... Outros precisam querer... O ser pensante pode se induzir a querer querer. Ou autosugestionar a precisão de precisar. Quer mais complexidade: o que a humanidade quer mesmo, acima de tudo, é querer querer e precisar; e, para os mais extremistas, pior – o homem está fadado a precisar de precisar e querer, não importa o quê, desde que consiga seguir isso...

Vê? Tudo isso pode ser a fome. Essa fome de ter fome... calma, calma, não é tão difícil assim de compreender! É só o seguinte: a fome é o que alimenta o homem, não a comida. Por exemplo, Auraryus, em sua fome de continuar seus negócios por essas bandas, deixou sua boa taverna nas mãos de um forag..., aliás, de um companheiro das antigas que nem conhecia muito bem... e o que o moveu? Isso, a fome! No final, a vida é uma grande cadeia circular de fomes tecidas umas às outras. Auraryus teve fome de averiguar a escassez de alimentos para poder matar a fome de seus clientes, que por sua vez, com seus pagamentos, matariam sua própria fome necessária para ele ter outras fomes na vida e correr atrás de seus devidos saciamentos. Você, por exemplo, já deve estar com fomes diversas: de sair daqui, de comer, de parar de ouvir o papo estranho de um sujeito mais estranho ainda... então, veja bem, se eu não te servir daqui a pouco, sua fome vai ser o que vai te mover para fora daqui para que você possa buscar (o querer buscar já é outra fome) outra maneira de saciá-la, porém, se eu te impedisse, você teria fome de me agredir ou se livrar de mim à força, porém, se você tentasse, eu estaria armado com esse par bonito de adagas que estou, aí você teria fome de pedir peloamordosdeuses que eu não te machucasse e fugir, ou, se você estivesse armado, hmmm, sei que não está, tentar a sorte, porém... ei, espera, aonde você está indo? Não corra tanto, você pode cair, isso aqui tá muito bagunçado! ESTAREI POR AQUI POR MAIS UM TEMPO ATÉ EU NÃO ESTAR MAIS VIU! SE QUISER VOLTAR! Poxa... não queria assustá-lo... Bem, fazer o quê...? Afinal, tenho que matar uma das minhas fomes... Será que o rato ainda está na cozinha?

Pulo-no-escuro, o Salteador

quinta-feira, 17 de maio de 2012

UMA PLACA NA PORTA

Caros viajantes, como veem, há um tom de abandonância e desertitude nesta taverna, mas isso é porque houve uma escassez de alimentos inexplicada nas cidades vizinhas (onde moram os fornecedores) e nosso bom taverneiro Auraryus saiu em busca da razão (e dos alimentos) para continuar o bom funcionamento do lugar... de qualquer forma, pediu pra agradecer a preferência, dizendo que se ele não voltasse até o fim do sexto mês desse ano, poderiam queimar ou vender o lugar. Ele deve voltar, creio... qualquer outro dia, se vocês estiverem de passagem por essas bandas, averiguem, meus bons homens.

Até a vista.

Pulo-no-escuro, o salteador.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Assim conheci Tom "Bordoada" Jones

Mas então, vejam só! Aqui estamos outra vez. 

Vocês me olham como cachorros encarariam, após um mês de jejum, o flanco de um javali assado com as mais finas ervas que um monarca poderia pagar! O que querem de mim é história, no entanto, e nesse ponto sou melhor do que o flanco de um javali assado por um deus. 

Pois bem, vocês sabem como a taverna foi fundada, mas esse lugar não se mantêm só comigo a tagarelar em vossos ouvidos. Palavras não enchem barrigas como um ensopado, não ludibriam a mente como a cerveja, não. E, por mais que eu goste deste lugar, ele não me rende o suficiente para comprar de mercadores a carne e o álcool dos quais vocês usufruem agora. 

"Qual foi a sua solução para isso?", se indagam aqueles que estão me ouvindo desde o início. 

Minha solução apareceu por aqui, por volta da segunda semana em que abri este lugar. Ela entrou neste mesmo recinto em que nos encontramos, pouco depois de uma perigosa Tartaruga Armadeira Atroz me encurralar em cima daquele banquinho, ali no canto. 

Não vou entrar em detalhes. Ela se enterrou na frente da taverna e quando abri a porta pela manhã fui pego desprevenido por sua investida. São criaturas cascas-grossas essas, acreditem quando digo. Prosseguindo, ela investiu contra mim e, como fui pego de surpresa, caí no chão. Ela continuou andando em minha direção. Apavorado, corri e subi no banco. Até então eu nunca havia visto um bicho desses. 

Vamos lá, não me olhem com essas caras zombeteiras! De onde venho, tartarugas são criaturas amigáveis, tranquilas. Lentas em terra, acima de tudo. E do nada me vejo confrontando uma que acabara de sair de um buraco na terra, pular na minha frente e me dar um susto digno de transformar um homem em donzela. Eu estava aterrorizado! Cercado de tábuas de madeira, muito bem pregadas, por todos os lados, só pude recuar até o banco e subir nele enquanto digeria três fatos. 

Havia uma tartaruga me ameaçando. 

Ela estava roendo o pé do banco. Você aí, que está sentado nele, pode ver as marcas dos dentes. 

Havia um vulto de tamanho humano na porta, coberto por uma capa verde escura, segurando um bordão em sua mão esquerda e um senhor naco de nabo na mão direita. 

O vulto se adiantou e, com o bordão, desferiu três leves batidas no casco da dita cuja. Ela calmamente parou de roer o pé do banquinho, se virou na direção do sujeito e partiu a galope, em uma investida absurda, contra ele. 

Ele simplesmente soltou o nabo no chão. Ela ouviu o barulho. Olhou para o nabo. E desviou sua rota, derrapando na madeira lisa, em direção ao vegetal. 

Fugindo de minha principal ferramenta, a voz, resolvi ficar mudo. 

Enquanto ela, resfolegantemente, apreciava aquele não-pequeno-pedaço de nabo, o sujeito tirou o capuz que cobria seu rosto. Uma expressão severa, marcada pelas garras do tempo e de outras criaturas mais palpáveis, investigou a minha pessoa. 

"Bordoada…" ele disse. 

"Não, obrigado. Já recebi contusões demais por um dia, no corpo e admito que na mente um pouco também viu…" respondi seriamente. 

"É como sou conhecido…" ele disse. 

"Mesmo sem o bordão em sua mão, eu acreditaria se me dissesse." respondi já não tão seriamente assim. 

Então a tartaruga levantou a cabeça, olhou para o Bordoada. Bordoada olhou para ela de volta.   

Eu fiquei olhando os dois, naquele momento mais curioso e admirado do que amedrontado.

Um investiu contra o outro. E juro, pelo frondoso pé de jaca que um dia me salvou,
que nunca havia visto tanto ódio na expressão de um ser humano e de um ser quelônio. 

Bordoada, por motivos óbvios além das pernas mais longas, alcançou-a primeiro do que ela a ele. A velocidade com que descreverei a cena, caros amigos, não está nem longe de estar próxima a ligeireza real da cena.

Bordoada se abaixou, saltou e, com um baque surdo, caiu em cima do casco dela, agachado. E ali ficou. A tartaruga deslizou um pouco antes de parar e, quando parou, esticou seu pescoço para cima, tentando morder o homem. 

Ela não alcançava ele. Foi um baile muito estranho de se ver. 

Ela girava.

Bufava.

Esticava o pescoço em outra vã tentativa de abocanha-lo.

Eu sentei no banco da perna mordida, refletindo sobre como goblins de passeio pareciam bem razoáveis diante… daquilo.

Ela tentou abocanha-lo por horas. Com muito cuidado, Bordoada sentou de pernas cruzadas em cima do casco dela e conversamos sobre trivialidades que não me lembro.

Não me culpem, peço-vos, pois eu estava mais concentrado nele sentado em cima de uma tartaruga obstinada do que em qualquer outra coisa. Nem mesmo me lembro, embora me digam que assim o fiz, de ter colocado lá fora a placa avisando que a taverna estava fechada.

Sei que a situação mudou somente quando o sol já estava baixo, como agora…

E depois termino a história. 

Ora! Não me olhem assim! Além de contador de histórias, sou o cozinheiro, e alguém, que não vocês, tem que tirar as tortas do forno… Vamos lá, paciência! Continuarei a contar esta história assim que tiver terminado meus afazeres culinários.

Se eu fosse vocês eu não iria embora! Não pela história em si, mas é que o pão de castanhas, se estiver tão bom quanto o cheiro, desafia a mãe ou a avó de qualquer um dessa província! 

Não se vão. Eu voltarei.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

E por que diabos uma truta tretada?

Pois devem estar se perguntando qual o motivo me levou a abrir uma taverna com este nome. É justa a pergunta, assim como justa será minha história.

Não muito tempo atrás, não muito longe daqui, enquanto eu viajava em busca de meu lugar, senti fome. Sem habilidades que me permitissem caçar algo com mais de duas pernas, fiz uso da vara de pesca que havia surrupia.... erh... pego emprestado de um amigo, sem aviso prévio, que mora longe e não deve querer me ver tão cedo...

Mas então, peguei a vara de pesca e segui para o curso d'água que corre a leste daqui. Sentei-me abaixo de um frondoso pé de jaca, audaz que era eu, e lancei o anzol no meio da correnteza. Senti a fisgada, coloquei-me de pé e lutei contra a terrível criatura que abocanhara a outra ponta. Foi um espetáculo, uma pescaria sem precedentes deste lado da província! Aquilo puxava e resistia, eu puxava e o trazia para mim. Após uma torturante disputa de forças, consegui tirar minha pesca do rio. Mas aquilo não era um peixe.

Vejam bem. Um peixe somente se debateria. Abriria a boca sim, mas sem som algum. E este xingou minha mãe de nomes que não ouso usar nem na mais estapafúrdia e lasciva história que tenho para contar.
Era um goblin. Juro ser o mais feio que eu tinha visto até então, pior que briga de foice com a mãe, no dia das mães, diante da avó... enfim, era feio.

Arrancou o anzol da boca, olhou-me nos olhos, apontou-me o dedo e falou mais outras coisas que me fizeram sentir um santo pelo que sei. Ele não parava de falar para ouvir minhas mais sinceras desculpas. Entendam, nunca foi de meu feitio pescar goblins em rios de forte correnteza.
Enquanto a cena ridícula se desenrolava, reparei de canto de olho que outro goblin saia do rio. Só então percebi os trajes dos indivíduos: folhas largas atreladas aos pés, pedaços do caule oco de alguma planta amarrado na lateral das cabeças de ambos e um projeto de roupa de baixo. Aí sim eu fiquei mudo.
'Que treta!' pensei.

Os dois então vieram para cima de mim. Eu estava armado com uma vara de pesca, cercado de jacas por todos os lados, e por dinheiro algum no mundo eu usaria meu alaúde como tacape. Por um alaúde todo em ouro talvez, mas não era o caso... Olhei para cima deles e vi uma fruta justa para aquela árvore. Era uma jaqueira frondosa como havia dito e se aquilo não era uma jaca digna da mãe, eu era um resto de couve nos dentes de um troll vegetariano. Foi instantâneo. Brandi minha vara de pesca como um cavaleiro brande a lança e "POF!", a jaca em queda fez o resto. Lambuzados, molhados e atordoados, os goblins ficaram gemendo aos meus pés. Eis que ouvi, naquele momento, o aproximar de alguém.

Um sujeito até bem apessoado, apesar das vestes coloridas como quem deita num pomar com várias frutas e sai rolando pelo chão, chegou perto, olhou para mim, olhou para o chão e pareceu se sobressaltar um pouco.

Ele me perguntou em sua voz mansa "O que eles estão fazendo aqui?". Retruquei "Olha moço, eu me perguntava a mesma coisa. Pesquei o primeiro e o segundo saiu da água. E eu só queria uma truta... Não posso comer goblins.". O mago me olhou com cara de nojo, puxou os dois goblins pelas orelhas e me disse "Perdão, mas é que sempre que saio com eles, eles vêm para a parte mais profunda do rio."

"Sempre que SAI com eles?" indaguei, ainda atordoado com o nível da treta em que parecia ter me metido. "Sim, saio com eles. São meus goblins de passeio... Perdoe-os pelo inconveniente. Eles gostam de água e adoram comer minhocas."

Não sei com qual expressão facial retruquei "Ah... é? Pois é né...". Ele se dirigia para longe quando parou, virou a cabeça para trás e perguntou "Você é novo por aqui? Nunca havia o visto. São terras ermas, embora seja uma província populosa.".

Educadamente respondi "Sou apenas um viajante procurando um lugar para me fixar. Espairecer sobre a vida. E sobre uma boa cama também."

"Ora, se tem o dinheiro, eu tenho o lugar. Há uma casa quase perto daqui. Se quer arrumar lugar fixo, e se é capaz de usar este instrumento nas suas costas, bom uso faria de uma taverna, numa estrada erma, mas cheia de viajantes. Não é uma taverna, mas uma casa que poderia vir a ser se você estivesse disposto a faze-lo." disse ele.

Ora, olhem bem para mim! Sou um contador de histórias e que lugar melhor para gerar algum ouro, senão uma terra onde existem goblins de passeio, uma taverna potencial e a oferta de um lugar?

Aceitei.

Acompanhei-o até sua casa, momento que pode ficar para outra história. O que vos interessa, no que toca a fundação deste lugar, é que saí de lá com fome e aqui chegando havia uma balde de trutas com um bilhete "Boa sorte Auraryus!".

E pensei "Quanta truta nesta treta!". E vos ofereço agora muitas trutas tretadas...