"Por quê?", vocês me perguntariam, se aí eu estivesse.
Enfim, logo após terminar de contar aquela primeira parte sobre a tartaruga armadeira atroz, dirigi-me para a cozinha terminar o manjar dos deuses, que é a minha gororoba, e alimentar a alma de cada um de vocês, quando irrompeu um lépido goblinzinho pela entrada dos fundos gritando por socorro. Ora, num lugar onde goblins são criaturas de passeio, ter um irrompendo pela cozinha, interrompendo a orquestração de uma autêntica "Sopa de Batatatroz Armada no Casco" é um presságio sério sobre algo que eu ainda ia descobrir. Após um copo de água, duas engasgadas, um soquinho nas costas batracóides e um tapa na cara para acordar o pobrezinho, que havia dado com a cabeça na quina da mesa depois do soquinho nas costas para descer aquele engasgo, ele me olhou com olhos tenazes de um covarde assumido e murmurou "Seu Auraryus, eles estão vindo armados até os dentes.".
Nessa altura, aqueles que lêem o aqui redigido devem estar se perguntando, como eu, quem eram eles, que armas eram essas e, acima de tudo, por que diabos estavam "vindo" e não "indo".
Segui para a porta dos fundos para ver que treta era aquela. Dei meia volta imediatamente, apanhei uma frigideira de tamanho grande, uma colher de pau, meu alaúde, o goblin e chamei Bordoada, pedindo-lhe que terminasse meu trabalho na cozinha e servisse a comida nova aos famintos pagantes e os saudáveis restos do dia anterior ao restante sem dinheiro, na medida do possível.
Saí então, munido com tudo que eu precisava para, audaciosamente, descobrir o que estava acontecendo. Aqueles que ameaçavam meu esperado último recanto e a segurança de vocês que estavam presentes naquele dia eram homens de Shenpu'Rako (que no idioma dos ditos cujos quer dizer "aqueles que pensam 3 vezes", e na minha mente quer dizer "homens defumados de além de lá"), uma tribo famosa por ter desenvolvido um emplastro especial de ervas capaz de tirar impurezas do ar, já que ninguém por lá tinha pensado em simplesmente criar uma abertura por onde a fumaça das fogueiras pudesse seguir rumo ao céu. Da última vez que os encontrei, cheguei até mesmo a perguntar o porquê de não abrirem um buraco no topo das habitações, mas fui respondido com tortas quentes de coisas que prefiro não citar para não estragar o apetite daqueles que pretendem voltar.
Se algum de vocês está se perguntando também o porquê de eu me munir de uma frigideira de porte grande, uma colher de pau e o alaúde (o goblin eu puxei porque era o único, vejam só vocês, a saber algo sobre o que estava acontecendo). Resposta simples: todo viajante que se preze sabe que é costume de tribos como a Shenpu'Rako resolverem contendas, divórcios e quem é o primeiro pega do dia através de disputas gastronômicas. Se uma das partes se recusa a participar da culinária, aí sim acontece o desafio de armas. Mas sou melhor cozinheiro do que espadachim, explicando assim a minha escolha.
Saí e fui escoltado pelos mais bravos guerreiros shenpurrakenses, por dias a fio, até que nos apresentássemos ao chefe da tribo. O abaulado cacique, notando nossa chegada, começou a revelar o real motivo daquela tão estranha e pitoresca reunião. Ele me disse, mais ou menos, com essas palavras: "Ó aquele-que-dedilha-muitas-cordas, és filho de um corno manso! Soubemos por intermédio dos espíritos-que-estão-do-outro-lado-da-vida que fizeste uma tremenda emboscada contra o poderoso Bahfunfah, meu estimado bichinho de estimação.".
"Mas que treta é…" ia eu dizendo quando fui interrompido pela cutucada (a bem da verdade foi com o cotovelo, mas o goblin era tão mirrado…) do meu pequeno companheiro, que sussurrou: "A tartaruga arameira atroz…. Tinha 400 anos e era herança de família"
Pois bem, em prol de desafiar a ansiedade de vocês, findo aqui a primeira parte da justificativa de minha justificada e justa ausência...